Vemos hoje na internet, em blogs e sites de grupos umbandistas, e até mesmo em jornais dedicados a religião um tema que causa muita discussão: a Umbanda é Cristã ou não?
Temos uma divergência de opiniões acerca desse assunto. De um lado aqueles que defendem a cristandade da Umbanda, do outro aqueles que querem eliminar definitivamente qualquer resquício do cristianismo. Tirando dos altares dos terreiros as imagens dos santos católicos, e acabando com o sincretismo dos Orixás, que a meu ver, faz, sempre fez e vai continuar fazendo parte de nossa religião. Modificando assim toda a essência e todo um histórico cultural de uma religião, difundida e sacramentada em torno do sincretismo.
Nem tanto ao Céu, nem tanto a Terra!
Em minha opinião, a Umbanda é uma religião Ecumênica. Nem cristã, nem pagã, nem hindu, esotérica, xamanista, ou racionalista e sim tudo ao mesmo tempo. O que difere de um terreiro para outro (terreiros sérios), são os Guias que a chefiam.
Por exemplo, uma casa que tenha como Guia chefe um Preto-velho, será diferente de uma casa de Caboclo.
Também se deve levar em consideração a ancestralidade espiritual do dirigente do terreiro. Se o dirigente tiver uma ligação ancestral com o Povo Cigano, sua casa tende a pender para um lado mais esotérico, com práticas divinatórias e toda aquela bela magia que tem os ciganos. Na verdade, muda uma coisa ou da ritualística, mais a essência continua a mesma.
Como eu já disse anteriormente, para mim Umbanda é Ecumênica, porque engloba o que há de melhor ( no meu ponto de vista) de cada religião dos povos existentes no Brasil.
Pois, sendo uma religião legitimamente brasileira, ela trás em seu plano espiritual, a cultura, os costumes e a fé de cada um dos povos que encontraram em nosso país, uma pátria, um lar. (Claro que tudo dentro das Leis de Umbanda e Universais)
Esses imigrantes quando vieram para cá, trouxeram consigo, toda a sua bagagem espiritual, que aqui se encontraram com a bagagem espiritual já existente: dos índios. Conheceram e misturam-se no Astral Divino e assim começou a formar-se a Umbanda.
Primeiro os brancos com o cristianismo, o judaísmo, algumas tradições herméticas (ocultistas e pagãs). Depois os negros africanos, escravizados. Com todos os seus Orixás, ritos, dança e música e magia.
Esses três formam os Pilares Sagrados de Umbanda.
Mais tarde vieram todos os outros espíritos, com sentimentos e propósitos afins. Orientais, Árabes, Ciganos e tantos outros. E assim no Astral Divino brasileiro se formou a Aruanda, cidade e pátria espiritual da Umbanda. União de espíritos dedicados a caridade, ao amor ao próximo, a fé, a união dos povos e a batalha contra o mal.
Para em 15 de novembro de 1908, ser oficialmente fundada no plano material, na cidade do Rio de Janeiro, pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, através do médium Zélio de Moraes, numa mesa Kardecista. Num momento em que esses o Kardecismo, estava em ascensão, e dizia que os abnegados irmãos, negros e índios, eram espíritos inferiores. E nos Candomblés os mesmos espíritos não tinham lugar, por serem Eguns (espíritos dos mortos). E o povo mais humilde necessitava de um alento maior, de espíritos iluminados, mais singelos, de palavreado simples, para o entendimento de qualquer um que os procurasse.
A Aruanda é parecida com o Brasil em seu plano físico, uma mistura de raças, culturas e credos. Com a grande diferença que lá eles vivem em harmonia e em elevação espiritual.
Vemos hoje nos terreiros uma imensa quantidade de diversos espíritos, e muitos outros que estão se incorporando a tradição de Umbanda.
Índios nativos ou não, Africanos, Orientais, Magos, Magas... Essa é a egrégora do Astral Divino Brasileiro.
Seria uma grande falta de respeito com tantos espíritos não Cristãos ou cristãos, nomear a Umbanda como religião Cristã, Esotérica, ou qualquer, racionalista ou qualquer outra nomenclatura que se possa dar. Umbanda, é Umbanda e ponto!
Fazer isso seria dogmatizar uma religião sem dogmas. Prender uma religião de livre pensamento em um termo único.
Não temos um livro sagrado, mas todos os livros sagrados são também nossos.
“É na diversidade que encontramos a unidade, e a unidade é Deus.”
Por outro lado, é um absurdo retirar dos nossos altares as imagens dos santos católicos, que representam os nossos Orixás, dentro do sincretismo. Simbolismo que nos remete a época da escravidão, do preconceito e da proibição. Esse simbolismo existe para nos fazer dar valor a liberdade que temos hoje, de cultuarmos e adorarmos Deus a nossa maneira. Nos leva também a lembrarmos, do sofrimento dos nossos negros escravos, esse que não deve jamais ser esquecido e que nos serve de lição para vida. Esses irmãos abnegados que fizeram do sofrimento, escada de elevação espiritual. Nossos vovôs e vovós que trazem, consigo, humildade e sabedoria.
Os irmãos que defendem a retirada do cristianismo da nossa dizem isso ser a evolução. Eu digo que não! Isso é modificar a natureza de uma fé e criar outra coisa que não Umbanda.
Quem nunca ouviu um vozinho ou uma vozinha, pedir para rezar uma missa para tal pessoa, ou para tal alma? Ou trazer junto de si, o rosário da Virgem Maria e a cruz em seu ponto riscado?
Seria possível então modificar tradicionais pontos cantados, retirando deles todos os nomes de santos católicos ou menção ao cristianismo? Pontos esses cantados e ensinados pelos próprios Guias espirituais.
Para mim seria inconcebível olhar o meu altar e não ver a imagem de Jesus Cristo, representando Pai Oxalá: ambos sendo o espírito de Deus, Zambi, Olorum na Terra. Aquele que em nome do Pai Maior vem socorrer seus irmão sofredores.
Já é hora de pararmos de rotular nossa religião. De dizermos abertamente à quem nos perguntar: “somos umbandistas, sim!”
Contudo, fico pensando: será que falam que a Umbanda é Cristã para ela ser aceita pela sociedade de maioria Cristã?
Quem conhece a Umbanda, a aceita como ela é!
Com sua caridade, sua fé sem preconceitos, aceitando à todos os que a procuram, seja, encarnado ou desencarnado. À procura de ajuda, ou oferecendo trabalho.
Para que mudar o que já nasceu belo?
E é belo, por que é como é.
Janaina de Souza.